PERSONAGENS
A
primeira pessoa do singular não existe quando estamos em público. Estava lendo
algumas coisas sobre os estudos de Freud e me veio à cabeça essa frase. O
que acho muito interessante, porque acontece com todo mundo.
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Não há
nenhum problema nisso. Mas o que quero dizer é que temos mais personagens em
nós do que a primeira pessoa do singular. Isso não significa que somos falsos,
hipócritas. Significa que é apenas uma interpretação. Um exemplo bem claro
disso é: quando contamos algo a alguém, dizemos de uma forma, quando for falar
sobre o mesmo assunto para outra pessoa, vai ser de forma diferente.
Os
livros, por exemplos, quem diz que livros biógrafos são reais está mentindo.
Nenhum livro é puramente real, mesmo que todos os sentimentos expostos ali
possam parecer que são. Primeiro porque ninguém fala como escreve, quando falo
o receptor entende o que eu digo, quando escrevemos temos que acompanhar a
coerência, à gramatica, à linguística, esse diálogo vai ser de outra forma. E
segundo, porque o cenário é outro, a forma de transmitir, a forma como
enfatizar o leitor entrar na cena, é completamente diferente.
Muitas
vezes julgamos as pessoas por isso, por essa transitoriedade de personagens.
Uma hora sorri, outrora fecha a cara. Uma hora conversa, outrora silencia.
Poxa, quanta bipolaridade, não? É apenas a contradição que todos possuem.
Outro dia
conversando com uma amiga ela olha pra e diz: nossa, como você é metido. É
obvio que todo mundo tem um pouco de egocentrismo, mas não levo muito a serio
quando me apontam essas coisas porque eu sei que são meus personagens atuando.
(Vale lembrar que os personagens eles são características das nossas
preferências, por isso que não somos falsos). E no mesmo dia, mas em outro
lugar, com outra pessoa. Perguntaram-me o que eu tinha que estava triste.
Respondi que não estava acontecendo nada, e por não acontecer nada, já era um
motivo. E viva a contradição.
Meu
irmão, outro exemplo, vive dizendo que me contradigo muito. E eu fico pensando,
qual é a relevância de uma certeza? Se tudo é provisório, imprevisto e
transitório. Onde mora a certeza? Na morte, porque essa é a única que temos. O
resto é uma hipótese.
O ser
humano, o pensamento, ele sofre alterações diariamente, a inteligência possui
camadas, quando achamos que sabemos de algo, logo descobrimos que não sabemos
de nada. Por isso, o conhecimento tem uma infinidade que não acaba. O maior
inteligente é aquele que sabe que nunca saberá de nada, porque tudo muda; tudo
é imprevisto e provisório.
Dizem que
os estereótipos não fazem mais parte da vida contemporânea. Mas me parece que
isso continuará sendo eterno. Eu que não rotulo nada, nem a mim mesmo, e vejo
aí um grande perigo. Mas há um perigo ainda maior, são aqueles que estão aprisionados
nas convenções e tornou-se personagem definitivo.
O bom
comportamento é personagem. O singelo é um personagem. O pacato é um
personagem. Quase tudo tem personagem e um palco. Mas anda pensando em fechar a
cortina, sair do palco e das cenas? E que ninguém me ouça. Porque a vantagem da
solidão é essa: lá eu me encontro.
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